18 janeiro, 2010

Trilha Antiga - Grace (Jeff Buckley)

Por Luiza Barros

1994
Columbia
Produção: Jeff Buckley/Andy Wallace
Projeto Gráfico: C. Austopchuck/N.Lindeman
EUA
51:19
(1.Mojo Pin/2.Grace/3./Last Goodbye/4.Lilac Wine/5.So Real/6.Hallelujah/7.Lover, You Should’ve Come Over/8.Corpus Christi Carol/9.Eternal Life/10.Dream Brother/11.Forget Her*)
*apenas nas edições mais recentes

Existem alguns artistas que constroem uma carreira diante de nós. Acompanhamos sua estréia, seu amadurecimento, a seqüência de discos que aumenta a cada ano. A relação afetuosa faz com que nossas vidas caminhem juntas: “me casei no ano em que aquela música estava em todas as rádios, etc.” Com Jeff Buckley poderia ter sido assim, não tivesse o destino querido de outra maneira. Morto aos 30 anos em 1997, Buckley deixou apenas um disco completo, Grace (1994), objeto da nossa Trilha Antiga de hoje. O álbum seguinte, My sweetheart the drunk, estava em produção quando o cantor se afogou enquanto nadava no Wolf River, afluente do Rio Mississipi que fica no estado americano do Tennessee.

Uma verdadeira preciosidade, Grace surgiu no auge do movimento grunge. Mas apesar de influências semelhantes, o contraste não poderia ser maior. Ao contrário de grupos cheios de fúria como Nirvana e Pearl Jam, Jeff não parecia ter raiva de nada. O que não significa que ele também não buscasse se libertar através da música, tal qual seus contemporâneos. Mas suas preocupações pareciam estar além do terreno. Apesar de não ser religioso, muitas das faixas de Grace podem ser consideradas parte de uma busca espiritual. O próprio nome do disco, “Graça”, já deixa bem claro essa predisposição do autor. Para tratar do tema, Jeff abre mão de seu ecletismo musical; apresenta composições próprias, como a sublime faixa-título “Grace” e a roqueira “Eternal Life” e os covers “Corpus Christi Carol” e “Hallelujah”. A última, uma belíssima canção de Leonard Cohen, ele tomou para si. Dono de uma voz belíssima, capaz de alcançar sem dificuldade altas notas, Jeff consegue interpretar Hallelujah com uma sensibilidade invejável. Hoje, a sua versão é a mais conhecida de todas. Parte disso se deve ao fato dela ter sido utilizada como trilha em vários filmes, como Sherk e The Edukators e seriados, como House e The O.C., para citar alguns.

Mas o que poderia ter levado Buckley a sair em busca de algum sentido para a vida? Especular seria tolice, mas pelo menos duas faixas do disco – “Last Goodbye” e “Lover, You Should’ve Come Over”, são canções dilaceradoras que versam sobre a desilusão amorosa e o remorso. Jeff revisita a melancolia poética dos Smiths, dessa vez mais terna e menos ácida. Além das faixas já citadas, ainda há “Forget Her”, uma balada em tom de desabafo que Jeff preferiu deixar de fora do álbum de última hora. Anos mais tarde, sua vontade seria desfeita com o retorno de “Forget Her” em uma nova versão de Grace. Mas devemos dizer, a desobediência póstuma da gravadora, apesar de interesseira, valeu a pena nesse caso. Para os fãs que ficaram, descobrir cada fragmento de um legado tão breve, porém tão rico, vale por um disco inteiro.

Veja também:

Trilha Antiga: Goodbye and Hello (Tim Buckley)

Um comentário:

Sugira, comente, manifeste-se sobre esse post!