15 janeiro, 2010

Trilha Especial - Tropicália

Por Mariana Coutinho

Você entrava em um labirinto de madeira com chão de areia e pedras. Passava por araras e plantas tropicais e chegava finalmente a um aparelho de televisão ligado. Era assim o ambiente chamado Tropicália, criação de Hélio Oiticica que foi apresentada na exposição Nova Objetividade Brasileira em 1967 no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro.

Em pleno borbulhar do final dos anos 60 nasceu no Brasil um movimento de vanguarda que ganhou o mesmo nome do ambiente artístico de Oiticica, a Tropicália (ou Tropicalismo). Caetano Veloso tinha suas dúvidas quanto ao nome. Tropicália lembrava trópicos, o Brasil, mas as idéias que estavam tomando conta dele não eram nacionalistas. Nem mesmo eles sabiam bem o que era, era uma geléia geral. Bastou juntar Caetano, Gilberto Gil, Gal Costa, Os Mutantes, Tom Zé, Nara Leão, o letrista Torquato Neto e o maestro Rogério Duprat e fazer uma mistura de tudo que lhes chamava a atenção para criar algo totalmente novo e inusitado.

Gil começou 1967 em Pernambuco, onde conheceu música tradicional e da vanguarda local também. Em maio estreou o filme Terra em Transe de Glauber Rocha, que inspiraria Caetano a escrever a música Tropicália (para quem tinha dúvidas quanto ao nome!). Em junho um lançamento inglês chamou a atenção dos futuros tropicalistas; o disco Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band, dos Beatles. Mas foi em outubro que todas essas influencias se concretizaram e o Tropicalismo nasceu oficialmente, com as apresentações de Domingo no Parque e Alegria Alegria no III Festival de MPB da TV Record. As canções conquistaram o segundo e o quarto lugar respectivamente. Assista a apresentação de Gilberto Gil e os Mutantes, cantando Domingo no Parque no festival:


Daí para frente a Tropicália se estabeleceu como um movimento que vinha para bagunçar, misturar coisas aparentemente contrastantes como a cultura erudita e a de massa, a arte engajada e a alienada. O rock’n’roll, o baião, o samba, e a bossa nova. Era uma verdadeira mistura antropofágica oswaldiana. Nas palavras de Nelson Motta que escreveu um artigo famoso em 1968 para o Última Hora, chamado ‘A Cruzada Tropicalista’, era “assumir completamente tudo que a vida dos trópicos pode dar, sem preconceitos de ordem estética, sem cogitar de cafonice ou mal gosto, apenas vivendo a tropicalidade e o novo universo que ela encerra ainda desconhecido”.

Em julho de 1968 foi lançado o marco do movimento, o disco coletivo Tropicália ou Panis et Circensis com músicas como Geléia Geral, Parque Industrial, Panis et Circense, Baby e Bat Macumba. Nesse mesmo ano os tropicalistas ganharam até um programa na TV Tupi, o Divino Maravilhoso, que foi exibido semanalmente entre outubro e dezembro.

No final de 1968 o governo militar editou o AI5, e ai vocês já podem imaginar, os ‘loucos’ da Tropicália não puderam continuar com sua revolução na música e na cultura brasileira. Logo em dezembro Caetano e Gil foram presos e em 1969 exilados. Com isso o movimento musical se enfraqueceu, mas a Tropicália até hoje é um marco na história da MPB e influencia muitos músicos da nova geração. Assista agora uma apresentação da música Divino Maravilhoso com Gal Costa numa performance à lá Janis Joplin:



2 comentários:

  1. Excelente post! Eu achava que o início da Tropicalia se deu com a gravação de A BANDA TROPICALISTA DO DUPRAT em 68... Enfim vivendo e aprendendo. Interessante foi Caetano e Gil mandando músicas de Londres para Gal Costa. A tropicália teve vida curta mas valew pela sacudida cultural que ela promoveu. É considerado o movimento musical mais importante que temos depois da bossa nova.

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