29 maio, 2010

Trilha Antiga - Transformer (Lou Reed)

Por Luiza Barros

1972
RCA
EUA
Produção: David Bowie; Mick Ronson
Projeto Gráfico: Mick Rock; Ernst Thormahlen
Duração: 37'

(1. Vicious - 2. Andy's Chest - 3. Perfect Day - 4. Hangin' Round - 5. Walk On The Wild Side - 6. Make Up - 7. Satellite of Love - 8. Wagon Wheel - 9. New York Telephone Conversation - 10. I'm So Free - 11. Goodnight Ladies)


Pouco conhecido pelo público geral no Brasil, Lou Reed ganhou certo destaque este mês com a confirmação de sua presença na Festa Literária Internacional de Paraty, a Flip. Roqueiro surgido entre o submundo nova-iorquino dos anos 60, a escolha do compositor pela organização da festa levantou uma delicada questão: letras de música são literatura?

Para responder essa questão vale a pena um passeio pela obra do próprio Lou Reed. Um bom começo é pelo seu disco mais popular até hoje, Transformer. Lançado em 1972, o segundo álbum solo do ex-Velvet Underground foi uma verdadeira guinada em sua carreira, repleta de altos e baixos. No período anterior à Transformer, Reed amargava a recepção negativa de seu primeiro trabalho sem o Velvet, o álbum homônimo Lou Reed. O mau recomeço foi superado no momento em que o vocalista escolheu o então jovem David Bowie e o guitarrista Mick Ronson para produzirem o seu novo disco. Na época, Bowie, fã de Reed desde a adolescência, estourava com o álbum conceitual The rise and fall of Ziggy Stardust and the Spiders from Mars. A persona andrógina adotada por Bowie resumia bem a estética do Glam Rock, que acabou sendo adotada na concepção de Transformer também.

A imagem de Lou Reed na capa segue esses padrões, e que foi descrita como “um Frankstein efeminado”, pode esconder o que há de melhor do disco: o seu próprio conteúdo. Na versão original, são onze faixas enxutas e diretas. A primeira, “Vicious”, é um chamado irresistível para o rock’n’roll. Em seguida vem a reflexiva “Andy’s Chest”. Em contraponto com a primeira faixa, “Andy’s...” parece a descrição de uma bad trip.

Mas é na terceira faixa em que começa a se entender porque esse disco tornou-se um clássico. “Perfect Day” é talvez a mais atemporal das músicas compostas por Reed. A letra, aparentemente simples, é de uma melancolia devastadora. Uma primeira interpretação é de que seria a história de um homem amargurado que não vê como levar um romance adiante. No entanto, poderia muito bem se tratar da relação de um viciado com as drogas. Não é a toa que a faixa foi utilizada no filme Transpotting, no momento em que um dos personagens sofre uma overdose de heroína. A música é forte o suficiente para ultrapassar qualquer barreira que possa ser imposta pelo próprio rock. Uma boa prova é uma campanha promovida pela BBC em 1997, em que artistas dos mais variados estilos a interpretam unidos:



Apesar de todos os seus méritos, não foi “Perfect Day” a música que consagrou o disco, e sim a também belíssima “Walk On The Wild Side”. É uma verdadeira crônica, que resume as trajetórias de diferentes personagens do submundo nova-iorquino que Reed conhecia tão bem. Pessoas como o ator Joe Dallessandro e a transformista Candy Darling, todos antigas “superstars” de Andy Warhol. Apesar da temática pesada, a música conseguiu conquistar as rádios com seu ritmo tranqüilo. É até hoje o trabalho mais conhecido de Reed.

Depois de ainda outras faixas memoráveis, como a dúbia “Make Up” ou a irresistível “Satellite of Love”, Transformer se encerra com “Goodnight Ladies”. Parodiando um cantor de cabaré, o cantor deixa no ar se todo aquele pretenso estilo de vida chocante do qual ele fala no disco inteiro não seria mera cena de um artista que, depois de tudo, volta para casa esperando o jantar e o telejornal. Auto-ironia ou não, a verdade é que Lou Reed seria capaz de produzir um trabalho mais profundo ainda em seguida, a obra-prima Berlin.

Ficha técnica retirada do livro "1001 discos para ouvir antes de morrer".

Veja também:



4 comentários:

  1. Mais um blog bem organizado, com design inspirador e possuidor de bons textos.

    Gostei muito!

    Música é aqui, tb! Esse é o canal.
    Boa pedida:Perfect Day!

    Você já visitou o blog #esteticamusical? Muito bom, tb!

    abs,
    seuanonimo.blogspot.com

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  2. Lou Reed é muito doidera. Ele e o Iggy. Aquele famoso livro Mate-me Por Favor!, fala bem disso. Eu tenho o refrão de "Rock'n Roll" como descrição do Orkut. Inútil, mas bacana. =]

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  3. Sinceramente, não consegui prestar atenção no post com uma equipe tão linda desse jeito, tirando é claro o Robson hahahahaha

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  4. na verdade a letra de andy's chest é sobre o incidente do tiro que andy warhol levou de uma seguidora

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