04 fevereiro, 2010

Trilha Antiga - Construção (Chico Buarque)

Por Luiza Baptista

Nos meus anos de ensino fundamental, não tem tanto tempo assim, tive uma professora que tinha três grandes paixões: o Fluminense, a escola de samba Mangueira e o Chico Buarque. Como boa torcedora do Galo Mineiro, nunca dei muita importância a esse amor tricolor. No samba, a Mangueira também não me convenceu, prefiro a Salgueiro. Mas o amor pelo Chico, ah, o amor pelo Chico, esse sim me pareceu totalmente apropriado. Acabei cultivando um carinho pelos sedutores olhos verdes do senhor compositor.

Mas o cantor tem muito mais que lindos olhos, afinal, Chico lutou contra a ditadura militar no Brasil. Não tem como se lembrar de Chico e não pensar nas suas letras, nos seus truques para escapar da censura que a ditadura impunha. Chico Buarque conseguia fazer críticas sutis ao regime militar. O cantor/compositor “brincava” de enganar a censura, fazia um jogo de palavras, e com muita coragem, criava canções como Cálice: “Como beber dessa bebida amarga/Tragar a dor, engolir a labuta/Mesmo calada a boca, resta o peito”, lançada no álbum Apesar de Você, de 1978.

(1. Deus Lhe Pague 2. Cotidiano 3. Desalento 4. Construção 5. Cordão 6. Olha Maria 7. Samba de Orly 8. Valsinha 9. Minha História 10. Acalanto)

A Trilha Antiga de hoje vai falar do álbum que marcou a carreira de Chico Buarque. Construção foi lançado em 1971, num período de forte repressão militar. O álbum foi considerado o terceiro melhor disco brasileiro de todos os tempos, pela revista Rolling Stone.

O grande disco da carreira de Chico começa com Deus Lhe Pague, que dá o tom do LP: ousadia na luta contra a ditadura. O álbum foi lançado depois de um breve exílio em território Italiano, e as memórias do cantor exilado foram retratadas nas canções. A grande crítica ao regime militar vem na música que dá nome ao LP. Construção retrata a vida de um trabalhador, um operário que é apenas uma peça de reposição, que ganha pouco e que trabalha longas horas para comprar os bens de consumo anunciados no TV. Critica assim todo sistema de governo, que cria esse operário. A música acabou não sendo censurada, mas Chico passou a ser vigiado mais de perto.

“Todo dia ela faz/Tudo sempre igual/Me sacode/Às seis horas da manhã/Me sorri um sorriso pontual/E me beija com a boca de hortelã...” difícil conhecer alguém que nunca ouviu essa canção. Cotidiano também faz parte do LP Construção, e, sinceramente, é a minha preferida. Sem grandes análises dos significados, ou passaremos horas revisando as músicas do Chico, a canção tem um ritmo que embala e sem perceber já estou batucando na mesa.

As músicas de Chico Buarque marcaram uma época da história brasileira, e muitos pesquisadores utilizam as canções do artista como referência para entender esse período. É na voz desse grande compositor que entendemos, ou tentamos entender, os acontecimentos desses 21 anos de ditadura militar. A minha professora, aquela lá do começo, é professora de história, quem diria?!

Pesquisa: Wikipedia e Rolling Stone

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