20 março, 2010

Trilha Especial – Franz Ferdinand no Rio (19 de Março de 2010)

Por Luiza Barros


Todos os shows de rock são iguais. Tudo começa com algum rumor na internet de que “sim, eles devem vir”, “eles vêm mesmo”, “no ano que vem”, “no próximo verão”, “em meados de março," "no dia 19”. Então, depois que as fontes oficiais confirmam, nós corremos para os sites de venda de ingresso que insistem em ficar fora do ar, pagamos caro (porque mesmo que você pague meia, você ainda paga caro), marcamos a data na agenda, no calendário, e, sobretudo, da memória, e esperamos.

Então depois de alguns meses, chega o dia, e você modifica toda a sua rotina por causa disso. Pede pro chefe pra sair mais cedo, fala que cobre as horas depois, mata aula, pega trânsito, paga caro pelo táxi superfaturado. Depois, mais espera: na fila, por horas indeterminadas, e já dentro da casa de espetáculos, em pé, com sede (porque você não vai sair do seu lugar conquistado com muito esforço para comprar água), apertado por todos os outros fãs que parecem desconhecer a regra básica da física de que dois corpos não ocupam o mesmo lugar, ao mesmo tempo.

O primeiro consolo vem com a banda de abertura. Um sinal de que logo tudo vai começar. Deve ser chato tocar para pessoas que estão esperando outros, você pensa. E quando se dá conta, eles já foram embora. O ciclo da espera se reinicia, é hora de assistir os roadies acertando um microfone ali, afinando uma guitarra lá. Muito mais tempo? As pessoas estão mais próximas ainda, e você já está todo suado, cansado e irritado com a tiete imbecil na sua frente que não pára quieta. Mas algo na iluminação muda, e quem você tanto esperava entra. São mais pulos, cotoveladas e pisadas de pé, e o oxigênio parece nunca realmente ter existido para além das tabelas periódicas. E vale a pena?

“Fazer valer a pena” fica por conta da banda. Quando esta é o Franz Ferdinand, eu posso afirmar agora com absoluta convicção que eles fazem valer sim. Os escoceses ralam tanto no palco quanto você para poder assisti-los melhor. No calor quase sólido da Fundição Progresso, você pode olhar para o vocalista Alex Kapranos e o rosto dele terá tantas gotas de suor quanto o seu. E ele está feliz. É aniversário dele, e ele está tendo uma festa no Rio de Janeiro, com várias garotas gritando o seu nome. O que mais um gringo poderia querer da vida?


Então segue uma seqüência arrasadora de hits, todos aqueles que você por quase seis anos ouviu no seu iPod, agora materializados, mais potentes, mas também menos sutis – eles tocam muito rápido. E depois de vibrar com “Dark Of The Matinée”, “Do You Want To”, “Michael”, “No You Girls”, “Bite Hard” e “The Fallen”, pode-se querer mais alguma coisa? Pode sim, porque você como bom fã do Franz sabe que o melhor do show ainda não chegou. Mas não tarda: começa “Outsiders”. Uma nova bateria é montada bem na sua frente, e os quatro integrantes da banda começam a tocá-la juntos, sabe-se lá por quanto tempo. Esse é o ápice, e você tem a certeza de que nada pode ser melhor do que isso. Mesmo assim, seria um crime não conferir o restante: ainda há muito mais. Kapranos reitera de que aquele é o Rio, aquela é uma festa e está muito quente mesmo cantando “this fire is out of control/I’m going to burn this city”, o serelepe guitarrista Nick McCarthy escala a estrutura de metal do palco e... chega a hora da lisérgica “Lucid Dreams”, um final muito digno para o espetáculo.

Os quatro se despedem, apenas para voltarem num segundo. Kapranos sacou uma garrafa do backstage para nos refrescar. E ele e seu comparsa McCarthy fazem aquele adorável clichê do rock: se jogam nos braços (e pernas, e cabeças, e barrigas) do público.

E então, quando eles voltam?

Fotos de Mônica Imbuzeiro - O Globo

3 comentários:

  1. Esqueceu de contar que eles te deram tchau quando você foi embora. xD

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  2. Ótimo texto!

    (Os parênteses indicam que isso aqui é detalhe... Só uma coisa: pô, você falou muito rápido do show em si! - que foi absurd(íssim)o.

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