02 abril, 2010

Trilha Antiga – Bookends (Simon & Garfunkel)

Por Luiza Barros

1968
Columbia
Produção: Art Garfunkel/Roy Halee/Paul Simon
EUA
28'55

(1.Bookends Theme/2.Save The Life Of My Child/3.America/4.Overs/5.Voices Of Old People/6.Old Friends/7.Bookends/8.Fakin' It/9.Punky's Dilemma/10.Mrs. Robinson/11. A Hazy Shade Of Winter/12. At The Zoo)


Sem dúvida, a década de 60 é repleta de álbuns marcantes. Músicas que mesmo que diretamente relacionadas ao contexto em que foram feitas ainda merecem ser tocadas, capas de vinil que apesar de perderam a cor no papel, ainda permanecem vivas no imaginário de todos nós. Entre todos esses, maravilhosos, belos, trágicos, soberbos discos, talvez um se destaque, por sua singeleza e ambição ao mesmo tempo: Bookends, de Simon & Garfunkel, apesar de ser um manifesto de uma época, sobrevive até hoje graças a sua beleza, essa atemporal.

Apenas o fato de eu, assim como muitos outros, continuar a escutá-lo. Obviamente, não vivi os anos rebeldes. Não li Marcuse, não vi Hendrix brilhar; não protestei, porque também quando eu cheguei todos já haviam se cansado de protestar. Inclusive eu. Mas como resquício dos sonhadores de ontem e de hoje, a década de sessenta sobrevive – nos filmes, na literatura, na música e em tudo o mais que possa nos transportar a uma outra realidade. É bem verdade que os nossos anos 60 não são os que existiram, e sim o criado pela nossa fervorosa e romântica imaginação. Como bem disse Paul Kantner, do Jefferson Airplane: “se você pode lembrar alguma coisa sobre os anos 60, você na verdade não esteve lá”.

Mas não nos percamos: voltemos a Bookends. Para mim e muita gente o melhor trabalho do duo Paul Simon e Art Garfunkel, o álbum foi lançado no emblemático ano de 1968. Geralmente a menção do próprio ano já diz sobre tudo o que aconteceu nele, mas se você perdeu algumas aulas de história, não custa visitar a página na Wikipédia com a listagem de alguns acontecimentos. Movimentos estudantis se organizavam para combater seus governos em todos os cantos do mundo. No caso dos EUA, contra a guerra sem rumo do Vietnã que vitimava progressivamente a juventude. E lá estavam Simon & Garfunkel, usando as mesmas golas-roules dos universitários americanos.

Embora a rebeldia se manifestasse através do rock ensandecido de Woodstock, a leveza das melodias bem trabalhadas da dupla levava à reflexão. A terceira faixa, “America”, talvez seja o mais grandioso exemplo. Uma viagem de dois amantes por aquele país, soberbo e imenso. Mas o que será que ele oferece a nós, meros mortais, tão pequenos? Logo em seguida, “Overs” começa rogando para que paremos de nos iludir. O rompimento do casal é marcado pelas figuras do cotidiano. “There’s no time at all, Just the New York Times”. A melancolia é interrompida bruscamente por “Voices of Old People”, que é justamente o que parece ser: uma colagem de gravações de pessoas velhas falando. Não tarda muito, a tristeza retorna com “Old Friend”. “Que estranho ter setenta anos”, o homem ainda jovem, porém já saudosista da letra pensa sobre seu futuro.

Fakin’ It” dá fôlego ao disco, com seu ritmo irresistível. Quase não dá para prestar atenção na letra debochada que trata da habitual hipocrisia necessária para a sobrevivência social nos EUA (e por que não em qualquer lugar?). Outro grande momento é a faixa final, “At The Zoo”. Se você não entendeu nada das letras aparentemente sem sentido, mas porém cheia de simbolismos da dupla, essa aqui passa o recado mais diretamente: “Zebras são reacionárias/Antílopes são visionários”. E quem há de discordar?

E não, eu não me esqueci. Esse é o disco que tem uma das músicas mais importantes de todos os tempos, “Mrs. Robinson”. A música foi feita a pedido do diretor Mike Nichols, para a trilha do célebre A primeira noite de um homem. De acordo com o que revelou um artigo da revista Variety, de 2005, Paul Simon começou a escrever a música com o nome de “Mrs. Roosevelt”, em alusão à primeira dama americana, famosa por seus casos extraconjugais. Só depois o nome foi modificado para o da personagem do filme.

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