05 junho, 2010

Trilha Antiga - Goodbye and Hello (Tim Buckley)

Por Luiza Barros


1967
42'41
EUA
Selo: Elektra
Produção: Jerry Yester
Projeto Gráfico: William S. Harvey; Guy Webster

(1. No Man Can Find The War - 2. Carnival Song - 3. Pleasant Street - 4. Hallucinations - 5. I Never Asked To Be Your Mountain - 6. Once I Was - 7. Phantasmagoria In Two - 8. Knight-Errant - 9. Goodbye and Hello - 10. Morning Glory)


Antes de começar a ler esse post, faça uma pequena experiência: jogue o nome “Tim Buckley” no Google. Se quiser tornar a coisa ainda mais difícil, coloque a busca apenas para páginas do Brasil. Posso garantir que o material encontrado será escasso. Em boa parte delas, o nome é apenas uma referência em textos sobre o filho, o também cantor Jeff Buckley. Com sucesso moderado quando era vivo e morto prematuramente, Tim Buckley é um tesouro perdido do folk sessentista. Em sua breve, porém prolífica carreira (foram nove discos em oito anos), Buckley não só deu força como reinventou o gênero, acrescentando elementos do jazz e do soul, com uma boa dose de psicodelia. Além de tudo, o compositor era dotado de uma voz poderosa, e não tinha medo de usá-la. A mistura mais bem-sucedida de todos esses elementos é o maravilhoso Goodbye and Hello, de 1967.

A aparente tranqüilidade de Tim, sorridente na capa ensolarada, cativa fácil, mas também disfarça a profundidade do disco. Mas basta os primeiros segundos da primeira faixa para o cantor mostrar ao que veio. “No man can find the war” começa como uma explosão. Nada mais apropriado para uma música que fala sobre a Guerra do Vietnã. A revolta contra o conflito é canalizada através da letra e do ritmo direto. Depois da audição, fica na memória o que Buckley nos pergunta: “is the war inside your mind?”.

Mas apesar da primeira faixa ser uma referência a fatos da época, boa parte do disco evoca outros tempos. Buckley parece ser um verdadeiro trovador medieval em “Carnival Song” e “Knight-Errant”. Os arranjos musicais e os próprios títulos mostram que não era sem querer. No entanto, a melhor faixa de Goodbye and Hello é a que mais foge desse clima bucólico. “Pleasant Street” é uma daquelas músicas que te destroem, tanto pela letra sem esperanças quanto pela melodia arrebatadora. E ainda há um grande detalhe: a guitarra elétrica. Influenciado por Bob Dylan desde o começo da carreira, Buckley também aderiu ao instrumento sem medos. Nada menos surpreendente para quem sempre buscou a experimentação.

Nesse quesito, “Hallucinations” também se destaca. A instrumentação criativa é capaz de evocar a temática fantasmagórica da faixa, com uivos e sussurros de tremer a espinha. Não supera, porém, a misteriosa “I never asked to be your mountain”. É a mais longa e também a mais ousada do disco, misturando a batida acelerada com ritmos indianos. A letra confessional é uma abordagem complexa do relacionamento tempestuoso com a mulher, que o artista abandonou junto com o filho pequeno.

Após esse turbilhão, a doce balada “Once I Was” permite ao ouvinte relaxar. “Phantasmagoria In Two” também, se forem ignorados os questionamentos do compositor sobre a vida. Mas os medos de Buckley são melhores desenvolvidos em “Goodbye and Hello”. Apesar da admirável construção poética, o tom épico da música pode ser um tanto quanto cansativo. Talvez por isso a faixa-título não tenha sido escolhida para fechar o disco, e sim a etérea “Morning Glory”. Ao fim, você se pergunta, por que falam tão pouco desse cara?

Você pode conferir um dos raros vídeos encontrados na internet abaixo, numa bela interpretação de "Morning Glory":



Ficha técnica retirada do livro '1001 discos para ouvir antes de morrer', org. Robert Dimery

Veja também:

2 comentários:

  1. Fantástico! Esse disco do 'último trovador' e o anterior (esqueci o nome mas é tão bom quanto).

    Parabéns pela ousadia de falar desse sensível artista que merece ser resgatado.

    Não deixe de conferir também o Nick Drake, vale a pena!

    Abração

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  2. Olá Rodrigo,

    também curto o Nick Drake. É só questão de tempo até ele aparecer por aqui...

    Muito obrigada pela força!

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