16 agosto, 2010

Trilha do artista – Neil Young (Parte II)

Por Luiza Barros


Depois de exorcizar os demônios que o assombravam com a “trilogia da fossa”, (ler a primeira parte) o cantor e compositor Neil Young resolveu retomar a sua banda, o Crazy Horse, substituindo o falecido guitarrista Danny Whitten por Frank Sampedro. A nova formação apareceu pela primeira vez no álbum Zuma, de 1975. Outra parceria retomada foi com o amigo Stephen Stills, com quem compôs o disco de 76 Long May You Run creditado à The Stills-Young Band. No mesmo ano, Young ainda participou do famoso show do grupo The Band, The last waltz. Considerado uma das maiores apresentações de todos os tempos, o evento contou não só com a participação de Young, como de outras estrelas como Eric Clapton, Bob Dylan, Neil Diamond, Muddy Waters e Ronnie Wood. O show deu origem a um documentário de Martin Scorsece, e entre uma das polêmicas, estava o uso de drogas. Uma das cenas, que revela restos de cocaína no nariz de Young, foi editada durante a pós-produção.

Mas as drogas não impediram que a produção do compositor continuasse prolífica. Em 1978, o disco solo Comes a time marcou o antes tão evitado retorno ao folk de Harvest. Com o Crazy Horse, veio Rust never sleeps, de 79. O álbum, majoritariamente ao vivo, trazia canções acústicas no lado A e com instrumentos elétricos no lado B. O elogiado trabalho ainda rendeu um filme, dirigido pelo próprio Young. Não foi a única vez que o músico se interessou pelo cinema: em 1982 foi lançado o raro Human Highway, em que Young, além de atuar, assina a co-direção. Estrelado por Russ Tamblyn e Dennis Hopper, a comédia contava ainda com a banda new-wave Devo.

Fazer um filme com o Devo pode parecer estranho para um cantor de folk-rock, e de fato, os anos 80 foram um tanto quanto caóticos para Neil Young. Emocionalmente, o cantor se encontrava preocupado com o nascimento de seu segundo filho com deficiência mental, apesar das diferentes mães. Mais tarde, o cantor ainda descobriria que sua terceira filha também sofria de uma desordem grave, a epilepsia. No campo musical, Young experimentava cada vez mais, o que o levou a inevitáveis discordâncias com a sua gravadora. Mas se as músicas estavam cada vez mais diferentes das de outrora, os fãs saudosistas puderam matar as saudades em 1985, com a reunião do Crosby, Stills, Nash & Young no Live-Aid, após dez anos sem tocar junto. Depois disso, os quatro ainda resolveram lançar um disco de inéditas, em 88. Infelizmente, American Dream ficou muito abaixo das expectativas, sendo completamente rejeitado pela crítica.

A década seguinte seria mais tranqüila para Neil Young; a chegada dos astros do grunge teve como efeito colateral um aumento do prestígio de Young, depois de ele ter sido citado como influência de Kurt Cobain e Eddie Vedder. Essa nova era foi iniciada logo em 1989, com o lançamento de Freedom. Contando com a faixa “Rockin’ in the free world” como carro-chefe, o álbum já demonstrava o engajamento e a crítica social que marcaria os atos seguintes de Young. Em 1992, o bem recebido Harvest Moon traria mais uma vez a sonoridade de Harvest à tona, como já indica o próprio nome. A época também foi marcada por sua dupla consagração no Hall da Fama do Rock’n’Roll: primeiro em 1995, pela obra solo, e depois em 1997, como membro do Buffalo Springfield.

As provocações políticas de Young aumentaram ainda mais com a chegada do ano 2000 e a ascensão de George W. Bush no governo dos Estados Unidos. Se em Freedom o alvo era Bush pai, o álbum de 2006 Living with war fazia um ataque virulento ao filho, com a faixa de protesto “Let’s impeach the president”. Um pouco antes, em 2003, Young já falava de preocupações típicas do mundo pós 11 de setembro, no conceitual Greendale. O álbum, feito com o Crazy Horse, narrava uma história em uma cidade fictícia da California, e chegou a virar filme e história em quadrinhos. Depois de uma carreira tão frutífera, resta a nós acompanhar os próximos passos e correr atrás da vasta obra deste grande compositor do rock.



Nenhum comentário:

Postar um comentário

Sugira, comente, manifeste-se sobre esse post!