07 outubro, 2010

Marisa Monte em: Gentileza

Por Raiane Nogueira

"Gentileza gera Gentileza", anunciava um andarilho de barba comprida, túnica branca e estandarte colorido na mão, que circulava incansavelmente pelo centro do Rio e nas barcas para Niterói. A figura curiosa era José Datrino, o Profeta Gentileza (1917-1996), conhecido por suas mensagens de paz, amor e boa convivência.

Além de fazer pregações pelas ruas, Gentileza buscou uma alternativa para que suas palavras não fossem esquecidas. Assim, inscreveu seus ensinamentos em 56 pilastras do viaduto do Caju, na entrada da cidade, uma crítica ao mundo contemporâneo. Segundo ele, só com gentileza podemos superar a violência gerada pelo “capeta capital”.

Porém, em 1997, os belos murais pintados pelo sábio foram apagados. Sob o pretexto de limpar pichações, a Comlurb cobriu quase todos os escritos com tinta cinza. A ação desastrosa despertou a indignação de muita gente, incluindo a cantora Marisa Monte, que compôs uma música em homenagem ao Profeta:

Apagaram tudo / Pintaram tudo de cinza / A palavra no muro / Ficou coberta de tinta / Apagaram tudo / Pintaram tudo de cinza / Só ficou no muro / Tristeza e tinta fresca // Nós que passamos apressados / Pelas ruas da cidade / Merecemos ler as letras / E as palavras de Gentileza // Por isso eu pergunto / A você no mundo / Se é mais inteligente / O livro ou a sabedoria // O mundo é uma escola / A vida é o circo / Amor palavra que liberta / Já dizia o Profeta



O clipe da música retrata as andanças de Gentileza pelo Rio e traz imagens dos painéis pintados no viaduto do Caju. É interessante que, durante todo o vídeo, o Profeta aparece em meio a um clima ensolarado, distribuindo flores para as pessoas. Para mim, o sol e o colorido das flores representam suas palavras, que amenizam o caos do centro da cidade, transmitindo um pouco de alegria e luz.


***
Os escritos do Profeta Gentileza começaram a ser restaurados em 1999, a partir de uma iniciativa da Universidade Federal Fluminense em parceria com a Rodoviária Novo Rio. Em 2000, o chamado “Livro Urbano de Gentileza” foi tombado, tornando-se patrimônio cultural do Rio de Janeiro.


Pesquisa:
Rio com Gentileza

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