27 abril, 2011

Violins, uma banda com melodias doces e letras amargas

Pelo colaborador Bernardo Cury*

No ambiente do rock nacional nós já ouvimos praticamente quase tudo nas músicas. Desde os clichês do amor a ponderações poéticas. De besteiras que passam na cabeça de um adolescente a pensamentos anarquistas. Mesmo com essa vasta gama de estilos, Violins consegue se destacar das outras bandas do mercado nacional. Suas canções únicas misturam letras anarquistas e poéticas. Uma cutucada na ferida, mas que te faz pensar. Esta é proposta da banda de Goiânia.

Violins não é uma banda pela qual você se apaixona na primeira escutada. Muito pelo contrário. Diferente das músicas tradicionais que são digeridas quase que instantaneamente – como um fast food – Violins causa um mal estar na primeira experiência – como um porre ruim. É necessário tempo e ouvido para apreciar as letras críticas de Beto Cupertino, vocalista e guitarrista da banda.

O grupo da Monstro Discos lançou seu primeiro EP – como muitas outras – com músicas em inglês e com um nome um pouco mais comprido: Violins and old books, em 2001. Dois anos depois retiraram metade do seu nome – ficando assim somente Violins – e lançando seu segundo álbum “Aurora Prisma”, já com letras potentes em português, mostrando todo o seu potencial, como na música “Empresta-me o Ábaco” em que tem a seguinte letra: “Meu riso esconde um mundo aflito / E joga pelo ar os sonhos que você guardou com carinho / E ame sempre o próprio engano / Isso te fará viver pensando que a vida tem sentido”







Em 2005, Violins lança “Grandes Infiéis” e começa a trabalhar com temas. Cada álbum possui uma abordagem e um contexto diferente. No caso de “Grandes Infiéis”, como seu nome já diz, a questão é a infidelidade de forma geral – da traição em um relacionamento (“Ensaio Sobre Poligamia”) até a traição do próprio caráter (“Vendedor de Rins”).  “Atriz”, uma dessas músicas, começa de forma lenta e doce e termina forte e impactante: “Quis se matar pra quê? me diz! / Vi você me ameaçar depois de tudo o que eu te fiz / É só enxergar o seu nariz / Pro seu bem, eu não durmo mais”.






“Tribunal Surdo”, de 2007, poderia muito bem ser a trilha sonora de um filme sobre Charles Bukowski. O mundo marginal, sujo, violento e ilegal que nos cerca é a grande inspiração deste trabalho. Ninguém escapa de Violins: marginais (“Campeão Mundial de Bater Carteira”), grupos de ódio (“Grupo de Extermínio de Aberrações”), bêbados (“A Lei Seca”), loucos (“Manicômio”) e vítimas de balas perdidas (“22”) são os protagonistas das músicas viscerais da banda. Entre elas está “Piloto Russo Na Aldeia Suskir” que conta a história de um soldado perdido que cai em uma aldeia e, por causa disso, é confundido com um deus: “Eu sou piloto da força aérea russa / Eu cai aqui abatido no céu azul / Mas eu não vim do céu / Isso é um paraquedas não é um manto hindu / Eu cai aqui abatido por caças turcos / Mas eu não vim do céu”.

Religião é o tema de “Redenção Dos Corpos”, de 2008. Entre belas músicas como “Corpo e Só”, as polêmicas não poderiam ficar de fora em um assunto delicado como este. Neste caso, destacam “Padre Pedófilo”, “Terrorista Justo” e “A Guerra Santa” que possui o seguinte trecho: “Quanta concorrência / Por um nome / Tantos porta-vozes sob véus / Em conflitos por um deus / Em conflitos / Que não honram o seu nome”.

No ano passado a banda lançou seu último álbum, “Greve das Navalhas”, ainda pela Monstro Discos, mas também em seu site para download. Considerado o melhor trabalho do Violins até agora, “Greve das Navalhas”  trata do fim do mundo e da morte, mas de forma positiva. O melhor exemplo é “Tsunami”, penúltima faixa do CD, que mostra uma versão otimista de uma tragédia natural: “Daquele corpo que eu julguei ideal / Eu só via as pernas /  E um aceno submerso sem um som / Pra mostrar que dá pé / Num instante de reza / Eu pensei que fosse a hora terminal / Mas depois da tragédia / Eu te encontrei de pé”.

No fim, Violins é como vinho, entende? É encorpado, seco, pode não agradar na primeira experiência... Mas vicia!

*Bernado Cury é jornalista, blogueiro no melhores do mundo e "um nerd que faz nerdices".

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