30 março, 2010

Trilha Especial - Beatles Num Céu de Diamantes



Quando me sentei em uma das cadeiras acolchoadas do Espaço Rio Sul, já sabia que ‘Beatles num Céu de Diamante’ não era um musical comum. Já tinha me informado e sabia que a peça não apresentava diálogos (não falados, pelo menos), nem uma história definida por um roteiro amarrado. Estava claro para mim que seriam só as músicas dos Beatles (só?). O cenário não seria elaborado, nem haveria muitas trocas de figurino. Talvez os personagens nem tivessem nome. Haveria elementos de palco. Malas, cadeiras, guarda-chuvas, luvas brancas e bolhas de sabão. Haveria instrumentos musicais, e seus respectivos mestres. Piano, violoncelo e bateria. Haveria atores-cantores que só poderiam ser maravilhosos. Eu sabia de tudo isso, e achava que tudo isso bastaria. E bastou.

Mas por algum motivo, quando me sentei na cadeira acolchoada, esqueci de tudo isso que havia pesquisado e voltei para a minha ideia inicial de um musical sobre os Beatles. Voltei à primeira ideia que tive quando soube que uma peça com músicas dos Fab Four ia estrear no Rio de Janeiro. Eu enxergava um musical dos Beatles no teatro como uma versão do filme ‘Across the Universe’, junto com toda a parafernália (maravilhosa!) de cenário e figurino da peça ‘A Noviça Rebelde’ que assisti em 2008. Para mim seria um espetáculo pirotécnico que me faria chorar, rir e cantar muito. Não foi exatamente assim, mas também não foi pior.

‘Beatles num céu de diamantes’ foi exatamente como eu já sabia que seria. Posso reclamar que o espetáculo poderia ter uma história atrelada às músicas, ou pelo menos mais amarrada (porque também não posso negar que há um fio condutor). No entanto, só posso elogiar o cenário, único e simples; os vestidos indianos coloridos, as batas dos rapazes, os tênis all star, as luvas brancas para a parte da comédia pastelão; as falsas notas de dólar voando, as bolhas de sabão, as luzes, e quantas luzes.

Os músicos eram maravilhosos. Impressionou-me o baterista (Jonas Hammar) que se desdobrava em manejar o instrumento, e dançar, cantar e atuar tão bem quanto todos os outros atores. Claro, me impressionaram os atores. Ou cantores? Ou os dois? Eram no total dez, cinco mulheres e cinco homens. Dez vozes interpretando canções já tão conhecidas dos meus ouvidos. Gostei de como cantaram All you need is Love (chamando o público a cantar junto), A Day In the Life, Lucy In the Sky with Diamonds, She’s Leaving Home, Help, The Long and Winding Road,You’ve Got to Hide Your Love Away e principalmente While my Guitar Gently Weeps em uma interpretação emocionante de Marya Bravo.

O espetáculo tem toda uma parte mais cômica, em que são interpretadas músicas mais leves dos Beatles, principalmente as do inicio da carreira. Nessa parte se destaca um ‘diálogo’ (quem disse que não tinha?!) entre as moças cantando ‘I Want to Hold Your Hand’ e os rapazes com ‘A Hard Day’s Night’; além das interpretações de Yellow Submarine, Ob-La-Di Ob-La-Da e Honey Pie.

Uma das minhas músicas favoritas, Hey Jude, ficou ótima na voz da jovem Tatih Köhler. Mas quase não acreditei que tinham cortado a parte do “Na na na na na na, Hey Jude” quando sem aviso a música acabou. Não posso deixar de destacar também o mashup (se é que pode ser chamado assim) de Yesterday com Let it Be .

O musical pode não ter excedido minhas expectativas, até porque elas eram absurdamente altas. Mas eu ri, fiquei com os olhos cheios d’água e cantei junto, pouco, mas cantei. Então para finalizar, vou usar as palavras de um senhor que estava sentado na minha frente e que descobri depois ser Billy Blanco, arquiteto, músico, compositor parceiro de Tom Jobim, Baden Powell e João Gilberto, escritor e avô-coruja nas horas vagas. Blanco estava no Rio Sul prestigiando o neto Pedro Sol no teatro e entusiasmado gritava em meio aos aplausos: “Bravo, Belo, Bravíssimo!”

Assista à apresentação do elenco de ‘Beatles num céu de diamantes’ no Programa do Jô:



Beatles num céu de diamantes é um espetáculo de Charles Möeller e Cláudio Botelho e está em cartaz no Rio de Janeiro até o dia 5 de abril.

3 comentários:

  1. Boa noite pessoal do A Trilha Sonora (e Mariana Coutinho, a escritora).
    Sigo o blog de vocês já há algum tempo, mas nunca deixei um comentário, na verdade eu não costumo fazer isso em quase nenhum blog, mas é porque o Asperger impede e minha pessoa estranha também acalenta certos entrecantos calamitosos.....mas que seja.
    Sou fã de Beatles em tudo, então naturalmente um texto sobre eles, faria minha coluna cervical rotacionar em sua direção. E foi assim que aconteceu.
    Confesso um certo "ressabiamento" por se tratar de um espetáculo teatral. Acho que muito por causa do Bono Vox e a sua interpretação para I Am The Walrus no filme Across The Universe. Ahhh eu sei que o filme é bonito, é diferente de teatro e tudo mais. Mas Bono, só vale mesmo aquela bolacha recheada.
    E não é que depois de ler o texto eu fiquei com vontade de ver a peça!!!!!
    Ver pessoas que são capazes de mostrar que algo vale a pena, colocando em um post o que sentiram e não um amontoado de teorias jornalóides é algo sempre muito bem vindo
    Preciso, bem escrito e com sentimentos de sobra para fazer qalquer pessoa se tornar fã de Beatles (ou mesmo de teatro)
    Como diria o MGMT:
    CONGRATULATIONS!!!!!!!

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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  3. Galera, adorei vocês! Que textos sensacionais! O que postaram sobre o espetáculo ‘Beatles num céu de diamantes’, de Charles Möeller e Cláudio Botelho, é intenso, arrepiante, numa consciênica do que eu estou fazendo de que ainda não fui prestigiar tal criação.
    Por favor, não parem nunca!
    Até sempre!

    Luiz Fernando Picanço.

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