09 maio, 2010

Lado B – 40 anos de “Let It Be”


8 de maio de 2010: 40 anos sem Bealtes

Quem acompanha “A Trilha Sonora” já deve ter percebido que os Beatles tem preferência na casa. Mas se este é um blog de música, e se eles foram o maior fenômeno musical até hoje, não é pra ser assim mesmo? Que bom que vocês concordam.

Então, hoje é mais um dia de post sobre os Beatles. Mas não é um dia qualquer: é o aniversário de 40 anos do último disco a ser lançado pelos nossos queridos garotos de Liverpool: o controverso Let It Be.

Mas atenção: eu disse lançado, não gravado. Como qualquer graduado em Beatles sabe, embora Let It Be tenha chegado depois às lojas, Abbey Road foi na verdade o último dos moicanos. O porquê de isso ter acontecido? É o assunto do Lado B deste sábado.

Let It Be começou a ser gestado em 1968. Após as turbulentas gravações do Álbum Branco, Paul McCartney idealizava um projeto que, pensava ele, seria capaz de por um fim às brigas. A ideia era produzir um documentário durante a feitura do novo álbum. Pensando em trazer de volta o frescor dos velhos tempos, e considerando até uma volta aos palcos, Paul intitulou o projeto de Get Back.

John Lennon comprou a ideia. Entediado com o experimentalismo no estúdio, estava doido para voltar ao rock’n’roll básico de antes. Para ver isso acontecer, não hesitou em descartar o produtor de todos os outros trabalhos dos Beatles, George Martin: “Não queremos nenhuma das suas porcarias de produção. Queremos um disco honesto”, disparou na época Lennon a Martin. Outra decisão foi abandonar Abbey Road e ir para o Twickeham Studios, em Londres. As duas medidas se revelaram um erro. Twickeham era frio e cavernoso, não exatamente o que se espera de um lugar para reconciliações. Paul tentava fazer a banda trabalhar, mas isso apenas fez com que fosse mais odiado ainda. Os outros o consideravam controlador e intransigente. Tudo o que o diretor Lindsay-Hogg conseguiu gravar para o documentário foram discussões.

Se teve alguma coisa com que os Beatles concordaram naquele período, é que era melhor voltar para Abbey Road. Foi o que fizeram: as sessões de Twickeham foram abandonadas. Mesmo assim, Lindsay-Hogg e a banda queriam dar um final ao filme. Seria o último e mais lendário show da banda, no telhado do estúdio onde eles fizeram história. Não era algo expresso, mas todos sabiam que algo mais além de um documentário estava sendo finalizado ali. Os Beatles se reuniram e tocaram, como nos velhos tempos. Desceram as escadas e foram fazer um outro álbum, Abbey Road, lançado em setembro de 1969.

E o que aconteceu com o material de Get Back? Bem, em 1970, as gravações do filme do projeto já estavam todas editadas, e ele teria um novo nome: Let It Be. O polêmico empresário Allen Klein (que assumiu a função após a morte de Brian Epstein) fazia questão de um álbum para acompanhar o filme. O material disponível foi reunido; era tudo bem cru, conforme a intenção da banda na época. Klein não ficou satisfeito e entregou as fitas ao produtor Phil Spector, que tratou de “amaciar” as faixas. Um exemplo foi o polêmico arranjo na balada “The Long and Winding Road”. Paul detestou. Em defesa de Spector, eu tenho que dizer que eu, pelo menos, adoro as cordas nessa música. Mas os Beatles visivelmente não ficaram satisfeitos com o resultado final: prova disso foi que em 2003, Paul e Ringo lançaram Let It Be... Naked. Como o nome já diz, o disco mostra Let It Be despido das intervenções de Spector.

Você pode conferir a primeira parte do documentário Let It Be logo abaixo. As demais partes estão disponíveis no You Tube.



Tumulto, intrigas e discussões. Let It Be causa tanta confusão quanto na época em que foi lançado. Há os que o defendem e os que preferem esquecê-lo. Não há dúvida de que Abbey Road é sim, um trabalho mais brilhante e bem resolvido, talvez um fim melhor para os Beatles. Mas esquecer Let It Be seria renegar a história da banda. Portanto, nada melhor do que pensar nos próprios dizeres do título, e apenas deixar ser.

Pesquisa: The Beatles - A Biografia, de Bob Spitz, e Por que o sonho acabou, reportagem de Mikal Gilmore publicada na edição 36 da Rolling Stone brasileira.

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